Parecia um fim de semana qualquer, um dia em que estava cansado e buscava
o afago dos abraços amigos, mas não é sempre que achamos o que buscamos, muitas
vezes somos achados, e eu fui.
Flui no meu sangue um veneno de uma cobra mortal. Envolveu-me em seu corpo
frio e escamoso, me apertou até que eu já não pudesse resistir, um grito ecoou
em silêncio no lugar mais escuro da minha alma, um veneno tão caro quanto um
vinho velho, bem, eu tinha que pagar por ele, paguei com minha paz. Recebi uma
carta do passado, ela revelou algo oculto, revelou segredos que prostituiram
minhas lembranças outrora guardadas como troféu.
Hoje é o dia em que eu o liberto. Queime tudo com o olhar capaz de carregá-los
ao inferno, pensei. Mas tudo que posso fazer é vomitar caso eu a veja, porque
sim, eu sinto nojo. A piada com gosto de sangue, os sorrisos sem dentes e o
palhaço sem cor, o tripé do que restou. Duas porcas e um galo, incumbidos de
transmitir a sífilis para o hímen virgem que eu amava, que eu pensava amar, que
representava o único momento em que eu pensava contatar aquilo dito “ser puro”.
O engano se tornou o ingrediente para condicionar o que está em mim
agora, o mal. Não tenha medo, meu anjo, irei guardá-lo aqui dentro, mas se me
ver irá saber o quão longe deve ficar. Amo-te cobra, trouxe-me a luz da verdade,
a escuridão do pesar, a liberdade do sentir, e o caminho a se traçar, longe das
porcas, da sífilis, da mão suja com a que me tocou. Desgraçado é todo o tempo
que perdi em ti, mon petit.
J.