Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
Tentado pela maçã que invade seu pseudo-espaço, angustiado pela irresolução que se lança sobre suas fantasias, instável como um big bang caótico, que se faz em uma rubra pincelada em um céu vazio, perdido de uma viagem eterna em um mar de consciência flutuante, eis o navio de cristal, eis três viajantes em um mesmo barco, tão frágil quanto a relatividade de suas emoções, sozinhos a buscar pelo ideal perdido, doce vicio, quanto ao qual é escrever sobre o que há de ser, pensar, fazer, sonhar e por fim realizar.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Árvore amarga, fruta doce

Pílula azul e vermelha, você conhece minha historia, não é? Tudo sobre morte, amor, alucinações, impressões, expressões, por aí, mas estou vivo e quero saber a cor resultante da mistura. Engraçado é se importar, ter uma consideração natural pelas coisas, fazer esforço para alcançar a indiferença, ser coagido por uma moral que ainda resta, um resto infortuno.
Engraçado é saber que existem pessoas que se importam. A vida é muitas vezes uma piada tão sem graça, muitas vezes tão colorida que te faz passar mal de rir, alegria.
Nervosismo; o sol quente que pesa sobre os ombros, que te faz fechar os olhos, enquanto você encaixa a chave na porta, a chave cai e alguém pega pra você, você fecha os olhos de novo e tenta encaixar a chave novamente, chave errada; Então você respira fundo, abre os olhos e encaixa a chave certa, de repente, você abre a porta com um pontapé, como um coice de um cavalo; Tranquilidade é suar sob o sol e depois se refrescar com um banho de sombra proveniente de folhas verdes de árvores marrons.
O cachorro está doente, doença aparentemente terminal, triste, introspectivo, silencioso e tão sombrio quanto à cor dos seus pêlos...  Caralho, não é meu, mas sou responsável não sou? Ele mora na mesma casa que eu, me espera e me recepciona até todas as minhas voltas, pula e me lambe até todas as minhas saídas... Eu? Eu vou e volto, como você faz ao ver um mendigo, sujo, fedido, as margens de um asfalto qualquer, não diz o que você pensa, nem age conforme, se trata do que você faz... Você faz, faz mesmo, faz no seu espelho um reflexo tão macabro, quanto uma sombra que se divide em duas na calada da noite, duas caras.
Comodismo; Não quero ter um cachorro, não agora, me incomodo por não querer cuidar dele, afinal tem quem cuide. Não quero ver mendigos, também posso fazer algo sobre isso e vou, vou mesmo, vou onde está roxo, no meu coração, no dele, no seu, me aguarde, meu cachorro sobreviveu e está bem agora, seus pêlos brilham e parecem macios, eu evito alisar, eu evito me importar, mas ainda assim me importo e é por isso que tenho que fazer algo, é por isso que vou fazer algo. Mesmo com pouca consideração a vida, enquanto se está vivo, ainda há ternura nas lagrimas de quem chora. Ela existe, existe mesmo... Maçã, mulher, amor, graças a elas eu ainda sei fazer poesia, nada de amor platônico, não tenho medo de morder.
J.      

quarta-feira, 21 de março de 2012

Efeitos Entorpecentes (Postagem Especial)

 Compartilhando semelhanças e diferenças com Jim Carroll, à sua memória, a qual me inspiro para escrever esse texto;

 Quando eu era garoto, devia ter uns 8 anos, tentei fazer amizade com deus convidando ele pra brincar comigo porque eu me sentia muito sozinho. Ele nunca apareceu, tentei conversar com ele na minha cabeça, mas às vezes eu pensava em coisas tão bizarras em resposta as minhas perguntas, isso me fez perceber que deus era só minha imaginação em busca de um amigo imaginário, era só alguém que outro alguém me falou que me ajudaria quando eu precisasse. Isso nunca aconteceu. Eu até estudei em um colégio católico e frequentava a missa aos domingos, mas isso não quis dizer nada sobre o meu atual comportamento, não me lembro de ter tomado uma surra severa, eu sempre as enfrentei com uma raiva que se sobrepunha a minha dor. Eu também era filho de mãe solteira e molhei pela primeira vez minhas meias por volta dos 14-15 anos;
“Sinos tocam em meus ouvidos. Luzes piscando em meus olhos...”
 Vez em quando eu derrubava as roupas das pessoas de seus varais e corria delas por aí, o meu futuro era de certo brilhante. Tive uns problemas com complexo de inferioridade, para se manter em pé com esse tipo de paranóia, você precisa ter presença nas ruas, presença como um tigre e não como um gato, o gato passa metade do seu tempo correndo de cachorros ou tentando achar alguma presa insignificante, isso quando não tem de depender de um dono que o ache fofo ou coisa que o valha, um tigre consegue o que quer com a maior indiferença, em um único movimento e não tem que correr de ninguém. Um segundo ou dois no seu movimento voraz... Eu? Eu ando como um tigre.  
Não suporto esse jeito, meu calcanhar contra meu colchão, sendo o meu pé a única parte do meu corpo que não cubro com meu edredom, ficar assim até é legal, mas imaginar uma fantasia pesada de sexo para que eu pudesse gozar rapidamente e ter de esquecer meus desejos de homem, é de certo modo triste. Claro que quando me satisfaço fico tranqüilo, como plantas que se balançam de um jeito sexy em meio à brisa da noite, mais valor teria deitar-me nu ao lado de quem eu amo sob as estrelas, sendo minha excitação natural, consequente ao momento.
“O tempo voa quando se é jovem e está se masturbando”.
Às vezes choro quando imagino meu suicídio e todas as despedidas que eu não teria tempo pra fazer, a morte não incomoda, mas as despedidas sim. Fico pensando se vou ter tempo de escrever sob a forma de todas as idéias que tenho, conhecer tudo que tenho curiosidade ou viver um romance com quem eu espero, esperar é um desperdício, mas pra essas coisas a gente não costuma ter outra saída. Memorizo cada expressão daquela face, olhar fixo que reprimi meus impulsos.
“Eu me imaginei remando por um rio em águas negras, só que a canoa flutuava pra trás e não pra frente, estava cheio de nuvens e rostos riam como em um trem fantasma.”
Toda turma tem seu jeito de provar quem é o babaca, eu nunca me importei com isso ou pensei dessa forma, mas como os garotos do Brooklin, apertei um cigarro aceso contra o meu braço até apagar em seu filtro sem fazer o menor movimento. Na verdade já fiz esse tipo de provação em outros vários exemplos, esses vários exemplos correspondem ao meu nível de idiotice, mas tem que ter alguém para fazer essas coisas, do contrário não teríamos uma lembrança forte o suficiente para levar ao tumulo, ou do que rir depois, o problema é que ser esse alguém pode não fazer a mínima diferença...
“O navio branco desaparece na máquina de ondas hoje de manhã, seus olhos se fecham com correntes secretas, os exércitos de travesseiros de repente se libertam, como cavalos macios por desertos de brinquedo”.
Uma vez viajando em um dos meus sonhos de idiota apaixonado, eu perdi uma parte de mim, me senti tonto como se tivesse saído de um filme de 4 horas sem ter entendido nada, continuava pensando naquela ferida, e em como tudo tinha sido uma farsa, foi como perder um amigo próximo para a morte, mas naquela ocasião só o meu coração que havia parado. Na vida algo sempre acaba dando merda, a gente tem de curtir, eu concordo;
“Você está crescendo e a chuva parece que fica nos galhos das árvores que algum dia dominará a Terra. E é bom que exista a chuva, ela clareia os meses e suas tristes expressões de arco- irís. Limpa a rua dos exércitos silenciosos para podermos dançar”.
Eu já contei sobre a primeira vez que tomei o chá e tive um efeito decente? Não foi em um ambiente pesado, na verdade eu estava indo almoçar na casa dos gêmeos, de repente meu almoço se tornou efetivamente uma espécie de ritual xamã na procura do deus sol, mas na verdade estávamos cercados pelas ruas imundas que naquele momento não nos possuíam, eu sempre achei que poderia conciliar o rumo desse meu futuro brilhante com lapsos e distorções de outras dimensões, e eu posso, mas é claro, as conseqüências nem sempre me agradam, o segredo está na forma com que você obtém isso.
“Foi como uma grande onda de calor passando pelo meu corpo. Desapareceu todo sentimento de dor, mágoa, tristeza ou culpa que eu poderia ter”.
Meus excessos se justificavam com o lance do sábado a noite; Você fica legal como um super herói ou super astro do rock. É uma coisa para matar o tédio, entende? Você começa esporadicamente como um pequeno hábito, você se sente tão bem que começa a fazer nas terças, nas quintas e pega você. Todo cara que eu conheço diz que não vai acontecer com ele, mas acontece, a cada mergulho nesse estilo de vida fica mais difícil emergir;
“Você quer parar, você realmente quer, mas às vezes é como um sonho. Não pode parar os sonhos, eles se movem em pedaços malucos para onde querem ir e de repente você é capaz de qualquer coisa... Babing! Babang!”
Drogas são uma das coisas que tendem a te levar para um final ruim, mas quaisquer regras podem ser burladas, desde que quem o faça seja suficientemente mais esperto do que a regra em si, o interessante da vida é que muitas coisas além de drogas satisfazem o desejo de sentir o êxtase do momento, mas é ainda mais interessante e perigoso quando essas coisas causam as mesmas consequências que as drogas em si, eu costumo mergulhar muito fundo quando gosto de algo, quando esse algo é mais atraente que a realidade em si, logo qualquer coisa com uma embalagem mais atraente que a própria realidade é uma droga em potencial para gente como eu, você só aprende a moderar essas coisas com o tempo, tropeçando e fincando o rosto no chão, como em uma transa, fazendo com que seu nariz faça parte do asfalto quente enquanto seu sangue representa seu esperma, nesse contexto o amor é cruel com os iniciantes;
“Era um sonho, não um pesadelo. Um sonho lindo que eu não poderia imaginar em mil noites. Vi uma garota ao meu lado, que ficou bonita quando sorriu. Senti aquele sorriso em minha direção e ondas de calor em seguida encharcando meu corpo e se esvaindo pelas pontas dos dedos em fachos coloridos. E soube que em algum lugar do mundo, em algum lugar havia amor para mim.”
De repente você está largado em algum canto como se estivesse em coma ou algo que o valha, deprimido, desmotivado e muitas vezes inconsciente, uma apatia terrível, mas eu sei que não estou sozinho, sei que meu barato não é algo necessariamente ruim, é talvez o ponto de partida para abraçar a realidade, para construir uma identidade sólida e coerente, para encontrar o amor que o mundo reserva para mim, nem sempre dá pra conciliar as coisas, mas felizmente eu sei onde ela está, sei que farsas são os momentos em que me esqueço e fujo para outra dimensão, sei que esperar pode compensar, sei que as energias boas e ruins que sinto, nada tem haver com o deus que me apresentam, sei que a consequência negativa do meu objetivo já se faz nula, porque quando um coração que já parou volta a bater, é porque ele se tornou tão forte quanto o de um titã, e eu o sou, ou pelo menos gosto de sonhar assim.
J.    

quarta-feira, 7 de março de 2012

Guts



Inspire.


Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.


Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.


Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.


Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.


Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.


Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.


Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.


Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.


Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.


As pessoas na França possuem uma expressão: “sagacidade de escadas.” Em francês: esprit de l’escalier. Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa….


Enquanto você desce as escadas, então – mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora.


Esse é o espírito da escada.


O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.


Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.


Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer… melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.


Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os faziam gozar melhor. De forma mais intensa.


Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem.


Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.


Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha.


Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.


Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho.


Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá.


O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau.


Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.


Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente.


O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.


Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais expesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.


O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmãos mais velho da Marinha escreveu.


No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.


Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado.


Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas.


O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d’água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.


Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.


Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.


Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nais quais você não se preocupa que te pegam.


A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.


Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cú chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.


Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.


Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.


Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.


Faço isso de novo, e de novo.


Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cú sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.


E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa.


Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.


As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.


Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.


As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás… mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.


Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.


Então… eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cú. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.


Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.


Ver essa pílula foi o que me salvou a vida.


Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.


Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.


O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.


Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.


Deus proíba que meus pais vejam meu pau.


Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.


Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d’água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.


Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.


Você então vê contra o que eu lutava.


Se eu largo, sai tudo.


Se eu nado para a superfície, sai tudo.


Se eu não nadar, me afogo.


É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.


O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.


Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.


Algo sobre o qual nem os franceses falam.


Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos “Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça…,” os russos dizem, “Preciso disso como preciso de dentes no meu cú……


Mne eto nado kak zuby v zadnitse.


Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.


Droga… mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.


Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.


Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.


É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque.” E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.


Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim….


Precisava disso como precisaria de dentes no cú.


Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.


Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.


Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela porra daquele cachorro era maluco.”


Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, “Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo….”


E então a menstruação da minha irmã atrasou.


Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente.


Nunca.


Essa é a nossa cenoura invisível.


Você. Agora você pode respirar.


Eu ainda não.






(Chuck Palahniuk, um dos maiores autores da atualidade)