Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
Tentado pela maçã que invade seu pseudo-espaço, angustiado pela irresolução que se lança sobre suas fantasias, instável como um big bang caótico, que se faz em uma rubra pincelada em um céu vazio, perdido de uma viagem eterna em um mar de consciência flutuante, eis o navio de cristal, eis três viajantes em um mesmo barco, tão frágil quanto a relatividade de suas emoções, sozinhos a buscar pelo ideal perdido, doce vicio, quanto ao qual é escrever sobre o que há de ser, pensar, fazer, sonhar e por fim realizar.

domingo, 24 de julho de 2011

Esboço de um Grito

 Grito sem voz gritou em frente a um espelho, gritava em silêncio, gritou com um olhar, gritava sem ter muito em que pensar e assim continuava gritando ao encarar todos os rostos estranhos que cruzava ao caminhar, encarou o sol , encarou o céu e continuou a gritar, quando ninguém lhe conhece você é um estranho, quando eles o olhavam ele gritava, rugia, para assim poder continuar, estranho seria baixar a cabeça, mas não um assassinato, mas não um suicídio, não um estranho submisso ao dia, sim uma criatura submissa a noite, ao instinto, sua vida, sua plena sobrevivência, mas ele não era diferente, só estava nu e sem usar uma mascara que era comum naquela época.
 Se o grito gritador pudesse ser nomeado, chamariam de lobo, de marginal, ladrão, isso e coisa, aqueles que o nomeavam eram sua família, a origem de sua conduta, se não, eram partes de si mesmos, a parte que trancaram com mascara de ferro dentro de seus corpos, essa parte estava ali, explicitada pela direção em que fintavam os olhares, olhares que soavam como balas de chumbo, também por isso o grito gritava, não lhe ensinaram a dialogar, não lhe ensinaram as convenções que convenceriam seus instintos a trancafiar sua escuridão, inventar um amor, ou reconhecer a beleza, talvez por isso o grito gritava sem distinção, não o distinguiam de outros gritos, grito era só um grito, mas não era diferente, só estava nu e sem mascara, era só um reflexo das sombras dos mascarados, ou mesmo a parte deles que se libertou, que se acumulou e sem distinção, mas com prazer matou, comeu e comprou, isso ele aprendeu, fixou e copiou , quanto mais pudesse comprar, menos precisaria gritar, pois menos iram julgar.
 Grito percebeu o seu ciclo e mais revoltado ficou, a superficialidade do que precisava fazer para menos gritar era mínima em relação à intensidade de suas emoções, gritando grito se sentia vivo, era ação e inocência, era ele por ele mesmo, estava só e já não enxergava direito, grito não tinha uma idéia para nela se fixar, grito estava em uma estrada no meio de uma tempestade, matar não o saciava, pois percebeu a natureza de suas prezas e com nojo ficou, só restava gritar, mas decidiu se matar, de nada valia caminhar quando nada podia alcançar, com a morte eminente o grito sorriu, estava desfeita a estranheza que o designava, ninguém mais se lembrava de um tal chamado grito, nasceu e morreu desconhecido, inaudível. 
                                                                                                                                                      J.

Sob e Sobre você


Mordo seus lábios, mordo com força
Puxo, repuxo te faço tremer
Te aperto e domino, não tens mais espaço
E agora , o que pode fazer?

Sorrir e falar não é necessário
Sou vento, não fuja, é puro prazer
Feche os olhos, viaje ao espaço
Acenda o fogo, meu momento é você

O barco é a boca o leme é a língua
Nade, flutue, estou a mercê
Sozinho não posso, viajem sem graça
Mexa-se, aperte, querer é poder

A maré esta alta, não perca o controle
Afinal, não existe, viver sem temer
Sozinha não pode, viajem bastarda
Dá-me a mão, estou com você
                                                    J.

Orion



Minhas palavras dedicadas ao soar do vento na ferida aberta e ardente por um sopro que beira o desespero são raras e vermelhas (“JOE”)

Entediado sob a luz de pigmentos cintilantes
O corvo veio me visitar trazendo consigo um convite
O convite para o ar cercado de estrelas
As estrelas iluminam minha noite singela
Singela por uma atmosfera sinistra

Os rodopios suaves da fumaça branca me rodeiam
Sinto o gosto da vinícola campestre
O momento se consome, a ferida se abre
Faca cega e depois afiada ao som do sopro do desespero

A vida de um ponto no universo paga o preço
O preço é beirar a morte
O sono é vencido pelo tédio
O sonho acompanha o falecido dormente
Que já não dorme

Mais pesado que o céu
É o mundo invisível que acompanha meu corpo
Distrações e ilusões assim como um doce amargo
Logo oculto pelo adormecer
                                                       J.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Inspiração Imaginária

Seu cheiro traz paz
Traz lembranças
Que vêm à tona com pausas em minha respiração
Para que eu possa lembrar delas por mais um instante

Pois ao expirar elas fogem
E resta apenas imagens frisadas
Mas eu preciso de mais que isso
Preciso estar rente a você para alimentar meu vício

Vício do seu cheiro
Vício de sua nuca
Vício de seu olhar
Vício de você

Inspiração por seus traços
Expiração como um alívio de ter você
A paz me toma mais uma vez
Até eu voltar à realidade

E descobrir que você não está...


L.

Vingança do papelzinho: O Desejo de um palhaço



Saco, não vejo graça nas coisas que todos fazem, gostam ou desejam, beleza explicitada é o que a maioria almeja e todos sabem, o dia destrói a noite,a noite divide majestosamente o dia, você pode correr, tentar se esconder, mas a única solução virtuosa é atravessar para o outro lado, é o que acho. Poderiam todos os relógios organizadores do tempo pararem ao mesmo tempo e mesmo assim nessa ocasião, caótica talvez, muitos de nós faríamos o mesmo, principalmente se fosse noite, depois entraríamos em um colapso que distorceria todos os hábitos chatos e entendiosos, aludidos por vícios como a repetição de um mesmo beijo ou um sonho em um navio estampado em cristal, momento maroto,que poderia ser incitado por qualquer viajante, manifestação magistral de um palhaço delirante em seu jardim de gira-sol, irritado pois ostentava o desejo que seu jardim fosse de gira-lua, e que todas as flores pudessem carismaticamente, sorrir para o seu jardineiro fiel, sem hesitar. Desconhecia o conceito arbitrário de limite, pois na sua casa não existiam portões, em seus sonhos,as crianças outrora cavalgavam uma cobra de sete milhas para um lago até o amanhecer,todas desferiam balas com o prazer do suave deleite na mira do coração dos velhos, estáticos os velhos se tornavam moveis, uma vez derretidos de sua solidez morriam horrorizados com o ato e efeito de acordar do inverno, choque térmico em verão. Otimizando seu sonho distorcia a realidade e assim nem notou quando o relógio parou já era comum sentir a sensação de um encontro de dois rios, a lembrança de um encantador mergulho naquele turbilhão, fazia valer o extermínio de seus receios, entristece-me saber que ele sofria, encontrava no breve mergulho, monstros vorazes, porque nem sempre o turbilhão o queria, mas não era essa a causa de sua dor, emergia dos mergulhos que eram breves, pálido e sem cor, por ser breve,doía. Não lapidou, não fixou, não desfrutou do suave deleite, tudo que ele queria era tornar real, especialmente o que ninguém acreditava, o que por vezes o cegava, o que por vezes, mortalmente, o feria. Sim, suas flores gira-sol tinham espinhos, ele queria mesmo era oficializar a colheita das pétalas das gira-lua e nelas escrever como em papel palavras raras e invisíveis para o tempo. O palhaço enganou a todos os ladrões de sonhos, teatralizou seu plano e seu sonho foi superestimado e roubado, quando descobriram aranhas e escorpiões fincados as suas palavras, escritas em pétalas de gira lua, decoradas com tinta invisível ao tempo, os ladrões foram picados pela surpresa do arco-íris sem pote de ouro. Para tornar real o querer do palhaço era preciso que ele enfrenta-se a dor da brevidade de um mergulho e depois durante um outro mergulho manobrasse sua consciência para um lugar mais denso e conciso, mergulhos breves originavam febres fúteis, as quais esvaziavam o leque de sonhos do delirante palhaço. Capricho açucarado em demasia, sonhar em um mundo sem definições para o tempo, artesanal por completo, mas para o palhaço, realidade entrelaçada a proximidade da ótica de um sonhador, que por osmose fixava na noite seus desejos refletidos no desbravamento de mergulhos breves ou não, não era capricho algum. O ápice de sua ordinária e poética aventura (foda-se a semântica) foi descobrir que tornar real seu penoso desejo só era possível durante mergulhos finitos, longos ou não, a descoberta atípica foi que ele só precisava continuar mergulhando, depois de sua revelação, sedento, o palhaço passou a amar o jardim de gira-sol, oficializando a colheita de suas simples pétalas amarelas, escreveu em uma delas uma frase invisível para o tempo, adepto e inspirador dessa nova percepção, o palhaço induziu o autor dessa historia depreciativa a exterminar a síntese de parágrafos,bem como qualquer importância que o significado dessa narrativa possa ter, afinal tudo esta sintetizado naquela rara frase.


(Texto modificado para uma versão mais simples já que o original é uma dedicatória a uma garota)
J.

Atração Sobrenatural


 O cerco se fecha. Luz magenta lunar se esconde entre duas nuvens paralelas. Conhecer sua natureza vampiresca não me afastou, aproximou-me do que mais desejo em você, sua alma suja e presença perturbadora que me segue onde quer que eu vá. Uma sombra que me acompanha a cada esquina enquanto suga o melhor [...] e o pior de mim. Sua palidez não me incomoda mais, pois o pouco magenta que resta, cora sua pele de um jeito tão obscuro e doce, ao mesmo tempo, que me faz ceder pela sua desdenha, a qual corta a brisa congelante da noite e me envolve em um manto amaldiçoado, levando-me a lugares imperceptíveis a olho nu. Seu verdadeiro rosto se mostra então, algo estranho, longe da compreensão de todos que dizem saber o que é real e fantasia. Assusto-me um pouco, mas logo seu desdém sorriso copio numa reciprocidade fora de sintonia. Vou a seu encontro, em passos lentos e cada vez mais pesados. Suas correntes se entrelaçam em meu corpo, em movimentos suaves. Preparo-me para a junção corporal, mas acabei de perceber que as nuvens negras finalmente se cruzaram e esconderam o seu melhor, o tal magenta. 
                                                                                                                                                                  L.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Bendita Humanidade



 Depois da vida, resolve-se guardar o coração em um lugar diferente, um lugar tão alto que se tornou impraticável subir àquela altura de novo, com medo de cair... Pensam-se duas, três, infindas vezes até a exaustão antes de olhar para cima de novo. Até que um sorriso contagiante de outrem apareceu para aquele ser, homem de lata, que pára e fixa seu olhar de curiosidade desesperadora de descobrir o que se esconde atrás daquele gesto tão humano e enigmático. Aos poucos ele sobe aquelas pedras que rasgam sua superfície rígida sem vida sabendo que só encontraria a resposta se chegasse ao topo. As pedras no caminho o fazia lembrar de tudo que já passou, o que o fez fraquejar por vezes, mas a vontade de tentar de novo era insaciável. Poderia ser um erro, mas ele já não queria saber disso, o sorriso estava quase se apagando. Poucos segundos depois, agarrou com toda força aquele coração sedento de sentimentos e transbordando fragilidade. Com aquele núcleo de sensações em mãos, não soube o que fazer, pois o mesmo já não encaixava no mesmo lugar. Sua decisão foi atropelada pela sua ganância, ofereceu seu próprio coração de bandeja ao sorriso, que o fez de pedaços, em minúsculas fibras espalhadas por todo o chão, com todo seu enigma e humanidade.

O homem de lata já não pode mais amar, pois não soube amar a si próprio.

L.