Eu não posso
parar de imaginar. Tenho pensado em uma estrada de barro, dessas que ficam em
montanhas desertas, acho que eu queria estar agora num lugar assim, nesses
lugares aparecem raposas de vez em quando; pelo menos é isso que vemos em filmes.
Eu estaria
dentro do carro, não precisaria me preocupar com o perigo emanado pelos dentes
a mostra dos meus amigos rosnantes. Estaria intencionado intensamente a pisar
no acelerador, alcançando aquele estado em que você sente um frio no peito,
como se não pudesse controlar o carro, um estado em que você já não se importa,
e não mais que de repente, puxa o freio manual bem próximo da beira do penhasco
abismal, eis minha roleta russa automotiva. Acaso e instinto, velhos amigos.
Não busco
mais pela verdade, se há alguma “verdade”, serei cavalheiro; não irei
prostitui-la em meus lábios, minha vacina, ou melhor, meu antídoto, é estar bem
longe, fora da frequência, me vendo da sala de controle sem interferir em nada,
cego, surdo, mudo e paraplégico para variar. Modo automático do palhaço robô,
que aperta o botão: “ver em terceira pessoa”.
Impeça-me de
estar longe, de acordar desse sonho de menino, de esquecer que te amo, de
apertar o botão; eu ando sobre o topo de um muro, passos precisos, garoto
altivo, mas só até que o vento sopre e confesso: quero cair do seu lado meu
bem.
Sabe, aqui
em cima é bem escuro; inverno macabro, chuva que corta, sangue escorrendo em
palavras vazias, sem trilha sonora, sem passatempo, um corpo congela enquanto
caminha, definha o desejo de ser mais que um, de bom só sobrou um parágrafo de
três linhas, foi o que o lobo deixou.
J.