Fome é quando seu corpo se consome, fome é quando seu vazio se faz constante, fome de quem escreve aqui é ilusão, cemitério de domínio público com limite de lotação.
Fome de verdade enfraquece, degenera e degrada. Fome por verdades que afunda, pois quem busca o faz de forma errada; areia movediça, curiosa e traiçoeira; e fuma e bebe e vende, e compra e cheira e briga, e reage ao mundo todo sem jeito, de dentro do buraco mais fundo, mais fétido, mais pegajoso, vaga-lume de brilho negro que se funde em escuridão, dias contados no fundo do poço da perdição, e já foi doença, e já foi vicio, e já foi puro conflito de natural instinto, e sempre, sempre será o habitat, paz não há pra quem mora lá. Celebrando a fuga, dão as mãos, se juntam, se chamam e se usam nessa podridão.
Quem chegar ao inferno primeiro ganha, brincadeira que pra mim não é estranha, até seu irmão fazer isso, até você ver teu possível reflexo tomando forma, chega, chega disso, sai dessa meu amigo, fica vivo até quando for possível, esse teu ritmo não difere do meu possível suicídio. A desgraça tem de ser mais lenta, assim assusta, perturba, envenena. Desgraça de quem tem fome é inevitável, sua busca vai se fazendo insaciável. Livre é quem se foi, quem desistiu, quem abandonou a esperança, eu não, ainda não, voltei com fome.
J.
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