Sabe quando uma lágrima escorre do seu
rosto sem você sentir nada? Nada mesmo! É tipo quando acaba de acordar e seus
olhos concentram toda a preguiça do universo (risos). Essas lágrimas são
engraçadas, refrescam a superfície da pele que até então estava quente e
enrugada por conta do atrito com os lençóis. É uma boa oportunidade para bancar
um ator, dos bons eu diria, principalmente se você estiver precisando externar
dissimuladamente algo.
Eu deveria escrever uma vez por semana,
basta um rápido “inside”, aptidão para exagerar e acrescentar as palavras
certas para tornar aquilo interessante e bang! Temos um texto, nenhum segredo. Estive
por aí, vendo e sentindo, você também deve ter feito isso, observando e
sentindo coisas semelhantes por ângulos e razões diferentes, brindaremos a
semelhança do viver humano? Perguntei.
- Só de gozação, fantasia, perdição...!
Respondeu como se fosse obvio.
- Eu não estive preparando a obra da minha
vida ou coisa que o valha, não que eu ache que isso interesse a alguém, mas é
que acho que tenho um sonso sentimento de responsabilidade em dar explicações
para mim mesmo quando me expresso com alguém, me divirto divagando sobre essas
coisas que não importam. Fui embora, não queria ficar muito tempo ali.
Dia passa, noite vem, perco sono, perco
manhã, minhas perdas são irrenunciáveis, meus ganhos inegociáveis, pois pobre
aqui estou, conversando fiado e tão vadio quanto um vagabundo. Sou um vendedor
de férias, mau sucedido, mas bem intencionado, trabalho temporário do carrasco
escritor, dissimulo brindes, me esforço no treino da cretinagem, falsifico o
futuro, frustro quem espera e espero o que não virá.
Por aquela janela nunca passou por sua
cabeça espiar, um manicômio de acesso exclusivo com breve falência, sem médico,
um único paciente, perdido no tempo, lacrimejando sem razão, deixou-me um
bilhete, tinha dois parágrafos, postei eles aqui, mochila de memórias.
J.
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